Roda Viva ou Travessia?

Tem dias que a gente se sente/ Como quem partiu ou morreu/A gente estancou de repente…

Às vezes é tão forte esse sentimento de desolação, de tristeza e até de desesperança que mais parece que ele vai se perpetuar, ali se instalar para fazer morada, torná-lo seu lugar. Assim estava se sentindo nas últimas semanas. E a única vontade era de ficar recolhida, de portas trancadas, telefones desligados, web desconectada. Ausente de som, o som era o que mais a incomodava, as vozes estridentes, os chamados insistentes, as buzinas, os rádios e as tvs ligados. Até o som do mar nessas horas importunava. Também, não queria a luz. O sol sempre bem-vindo nos amanheceres agora a agredia, era preciso mantê-lo por trás de fortes e poderosos blecautes. Ausência de luz, ausência de som, ausência dela. Queria a cabeça esvaziada até a última miligrama do encéfalo e que levasse na enxurrada tensões musculares para dar lugar a nervos lassos, corpo abandonado. Sim, corpo abandonado, jazido.E foi se deixando levar. Seria o final de tudo?Morrer seria isso, não sentir nada, não ouvir nada, não ver nada? A paz estaria na morte? Mas a paz que o vazio dava naquele instante não era branca, feito a bandeira hasteada em sinal de rendição durante a guerra.  A paz era negra, como o Caos nos primórdios.

Roda mundo, roda-gigante

Roda-Moinho, roda pião  

 O tempo parou num instante

Nas voltas do meu coração

Quanto tempo durou essa infinita lassidão? Intermináveis minutos, incontáveis segundos? E então, pontinhos luminosos começaram a se insurgir contra aquele nihilismo e num  jogo coreográfico de vaga-lumes começaram a matizar as trevas do seu quarto formando arremedos de imagens que aos poucos foram se delineando melhor e pôde perceber fragmentos voando, voando, voando num balé cuja performance só começou a entender depois de abrir bem os olhos e a mente descobrir que eram pedaços dela que estavam ali naquela dança estranha, num revoluteio que afasta e junta pedaços a pedaços, formando um quebra-cabeça que a recompunha. Ah, essa capacidade que temos de ressurgir, somos todos Fênix!. Não do jeito de antes, quem mergulha no olho do furacão não sai do outro lado igual. Alguns fragmentos não voltam, jamais saberemos se as melhores ou piores partes de nós ficaram para trás, outros nos parecem diferentes quase como se os tivéssemos vendo pela vez primeira, mas são um tipo estranho familiar, quem sabe sempre estiveram por ali e nunca se dera chance para reconhecê-los, outros, ainda, nos deixam na zona de conforto porque parecem ser os mesmos de sempre, como se nada tivesse mudado, tudo permanecera o que sempre foi, fazendo-nos duvidar da verdade da música que diz, nada do que foi será do jeito que já foi um dia.000_thumb_191832

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Carta Recebida de Dulores

frase-amor-e-odio-estao-diante-do-homem-e-o-homem-nao-sabe-escolher-biblia-155243Querida Amiga,

Admiração! Admirados ficam os homens diante do diferente, do que foge às leis naturais, sentimento de estranheza diante do desconhecido. Dizem que este sentimento foi um dos fios condutores que levaram os homens a buscarem explicar os fenômenos, por exemplo: o dia e a noite ou o porquê das estrelas não caírem do céu. Admirada fiquei com você, minha amiga, cujos sentimentos ainda são alimentados pela seiva do romantismo, levando-a a enxergar o mundo e os homens muito mais belos do que eles são na realidade.

A beleza é incontestável na natureza, nas criaturas e nas criações humanas e, de fato, não há como negar que as artes, a beleza como manifestação estética criada pelos homens, constituem um esforço para expressar de forma material ou imaterial tudo que os inspiram e os transformam. Minha amiga, você há de convir que o ódio encontra-se presente em qualquer ser humano, assim como o seu contrário, o amor, ou seja, é muito difícil separar, ou distinguir, na essência, se é que ela existe, a força capaz de apagar um dos elementos dessa relação, deixando apenas um deles ligado, aceso. Por outro lado, eu acredito na criação de mundo paralelo, capaz de criar uma linguagem estética associada à beleza, como também um mundo onde sobreviver é só o que importa, em condições de total miséria, como por exemplo, os campos de concentração nazistas, onde provavelmente homens objetos de toda ignomínia, conviveram com homens sujeitos de sua história.

Amiga, se serve de consolo, você representa minha outra parte, esta sim, iluminada, que tenta me apagar, mas que não sei se feliz ou infelizmente, não consegue. Sabe que eu estava presente nos banquetes e nos enterros, que a vi chorar desesperada sem acreditar em mais nada, desejando a morte como solução. Não é verdade? Louvo o seu propósito de esquecer, lançar no buraco negro o que lhe fizeram, e, usar todo o seu enorme potencial em “coisas bem melhores”. Ainda não resolvi se vou mandar ou não essa resposta, sou desesperadamente insegura nas ocasiões que tenho que tomar decisões. Apenas para arrematar, de novo, o outro não tem apenas ódio e nós apenas amor, onde um está mais presente o outro está esperando sua vez de aparecer.

                                                                                         Dulores

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Encontro com Dulores

 

Em tempos de tanta balbúrdia, indignação, inconsequência e arbitrariedade busco refúgio em Dulores para aliviar um pouco a tensão que me invade.E comecei a falar com ela sobre o vídeo que acabei de assistir sobre Alice Herz-Sommer,  que sobreviveu ao campo de concentração nazista ajudada pelo seu profundo amor à musica. À época do vídeo, aos 109 anos de idade (morreu dois anos depois), continuava lúcida e encantando as pessoas com o seu piano. As pessoas paravam em frente à casa nº 06, numa rua de Londres,  onde ela residia, para ouvi-la tocar. Além da sua inteireza, morando sozinha, tocando piano com aquela idade, o que me chamou mais a atenção foi o seu sorriso, a sua alegria, como se não tivesse guardado qualquer ressentimento da vida difícil que   tivera, a morte do marido e outros familiares nos campos de concentração, o sofrimento que passara com o filho ainda tão pequeno no campo, quando deveria estar brincando, frequentando uma escola ou mesmo tocando algum instrumento, mesmo depois, a morte prematura do filho adulto de um aneurisma.  E quando o entrevistador lhe perguntou se ela guardara algum ódio daquele tempo, ela disse que não, que até agradecia tudo que passara porque certamente ela se tornara uma pessoa melhor, mais preocupada com o que é essencial e fundamental na vida.

Claro, Dulores discordou na hora, disse que não acreditava em tanto desprendimento, tanta generosidade, que ela estava fazendo gênero, expressão que usou.  Retruquei que eu acreditava plenamente e não só isso, ficara profundamente comovida, por duas razões. Primeiro, porque acredito na força das artes plásticas, da música, da literatura para libertar a pessoa de uma realidade muito difícil.Mário Vargas Llosa, certa vez, disse que o escritor criava uma realidade ficcional para poder suportar uma vida muito difícil. Não estou querendo afirmar, disse para ela, que para ser escritor ou músico ou artista de uma forma geral você precise ser infeliz, viver situações traumáticas ou coisa que o valha. Não é isso. Mas, o sujeito que consegue transpor para a literatura, ou à música toda a sua excitação interna, ao investir grande quantidade de energia ali cria um mundo paralelo que lhe permite suportar a hostilidade e agressividade que a vida e as pessoas impõem. A dor, a angústia se esvai nas telas, na escrita  e nos sons.  A música salvou Alice Sommer, ao tocar os seus compositores favoritos ela pegava uma carona nos acordes e distanciava-se do campo sujo, cheio de piolhos e de sofrimento.

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Outro ponto importante que eu realcei para ela foi a extrema inteligência emocional da pianista ao não se deixar consumir pelo ódio àqueles que tanto mal lhe faziam e depois, quando conseguiu sair de lá, relembrando o que lhe fizeram. Dulores gracejou, nem todo mundo é Cristo para dar a outra face. Não creio que as pessoas que conseguem isso o façam por uma amor maior à humanidade. Talvez seja apenas amor maior a si mesmo. Guardar ódio pelo que nos fizeram é trazer do passado para o presente o sofrimento. Os que guardam longos anos de ódio e ressentimento devem esconder algum gozo particular que não dá para outra pessoa avaliar, só o próprio sujeito vai entendê-lo e poder contabilizá-lo. E ela me perguntou à queima-roupa: você perdoou todas as pessoas que lhe fizeram mal? Fiquei um pouco desnorteada, até porque veio-me a dúvida na hora se ela estava querendo me dar uma rasteira porque eu havia discordado dela quando começamos a discutir, vez que Dulores conhecia algumas injustas grosserias e perseguições que eu ao longo da minha vida havia sido alvo, ou se ela queria mesmo saber o que eu fizera com tudo aquilo, se guardava comigo ressentimentos ou perdoara. Para ser coerente com a minha tese ora defendida preferi acreditar que ela estava realmente interessada nos meus sentimentos.  Então respondi. Não sei se perdoei, é mais provável que não, porque não consigo devolver o lugar que aquela pessoa tinha na minha emoção.  Mantenho-me formalmente próxima, na verdade. Não excluo, nem dedico um dia dos meus pensamentos ao que me fez, não gasto a minha energia com ela, tenho pessoas e coisas bem melhores para investir. Do passado, apenas o aprendizado, para não ser pega de surpresa. Jamais procuro saber o que fala a meu respeito, não me interessa, posso não gostar do que vou ouvir. Se fosse minha amiga, viria me dizer de frente e iríamos conversar, sou toda ouvidos. Se for por trás, é porque não quer que eu saiba. Respeito. Não quero saber.

Mas, o ódio não é sempre um mal. Ele é fundamental para as grandes mudanças pessoais e sociais. No campo pessoal, às vezes você tem que deixar a raiva emergir para acabar com anos e anos de infelicidade, de desamor. Ignorar, deixar passar, não vai resolver o que exige solução. Para a sociedade, são os movimentos sociais com a sua indignação, resultante de anos de exploração e miséria, que fazem acontecer mudanças estruturais relevantes . Sem o ódio coletivo talvez nunca acontecesse.

Então, Dulores, me interrompeu para dizer, como está acontecendo agora no Brasil. Devolvi a afirmação com uma pergunta, você acredita nisso? Na verdade, não. Para mim essa indignação tem outras motivações, outros interesses. Ainda bem que estamos de acordo em alguma coisa, eu disse. E tem mais, o ódio que está circulando na mídia, nas redes sociais, nas passeatas não vão construir uma sociedade melhor. Pelo contrário, podem levar à destruição de uma década de importantes  políticas sociais. Mas, vamos falar disso uma outra hora, Dulores.

Na despedida estávamos muito mais próximas do que quando nos encontramos, unidas pelo sentimento de preocupação com o futuro do Brasil.

Charles Baudelaire: gênio do mal ou patinho feio?

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Quebramos a garrafa de champanhe para saudar a  primeira viagem da Oficina em 2016 com o poema Gênio do Mal, de Charles Baudelaire.  A escolha foi fácil diante da paráfrase com o poeta, denominado de Gênio do Mal,  devido seu lado transgressor e atração pelo espírito das trevas, gênio ou representação do mal.  O desejo de ler o poema no original tornou-se uma árdua e quase impossível tarefa, conforme está postado no blog da Oficina (www.traco-freudiano.org/blog). A viageira Adelaide incansável na sua busca releu centenas de poesias de Charles Baudelaires até achá-la sob o numero XXV de Flores do Mal. Tanta labuta fez-me  mergulhar mais na obra desse autor, descobrindo, além das poesias ensaios literários da maior importância. O tom do ensaísta difere um pouco do tom do poeta, sendo o primeiro mais formal, menos parecido com um anjo do mal. Anjo ou demônio Charles Baudelaire será nosso companheiro na Oficina por mais algum tempo, leitores seus e conhecedores do monstro delicado segundo suas palavras: Tu conheces, leitor, o monstro delicado/-Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!

AO LEITOR

                                                           Charles Baudelaire

A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez

Habitam nosso espírito e o corpo viciam,

E adoráveis remorsos sempre nos saciam,

Como o mendigo exibe a sua sordidez.

Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça;

Impomos alto preço à infâmia confessada,

E alegres retornamos à lodosa estrada,

Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça.

Na almofada do mal é Satã Trimegisto

Quem docemente nosso espírito consola,

E o metal puro da vontade então se evola

Por obra deste sábio que age sem ser visto.

É o Diabo que nos move e até nos manuseia!

Em tudo o que repugna uma jóia encontramos;

Dia após dia, para o Inferno caminhamos,

Sem medo algum, dentro da treva que nauseia.

Assim como um voraz devasso beija e suga

O seio murcho que lhe oferta uma vadia,

Furtamos ao acaso uma carícia esguia

Para espremê-la qual laranja que se enruga.

Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos,

Em nosso crânio um povo de demônios cresce,

E, ao respirarmos, aos pulmões a morte desce,

Rio invisível, com lamentos indistintos.

Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada

Não bordaram ainda com desenhos finos

A trama vã de nossos míseros destinos,

É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.

Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais,

Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,

Aos monstros ululantes e às viscosas feras,

No lodaçal de nossos vícios imortais,

Um há mais feios, mais iníquo, mais imundo!

Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,

Da Terra, por prazer, faria um só detrito

E num bocejo imenso engoliria o mundo;

É o Tédio! – O olhar esquivo à mínima emoção,

Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.

Tu conheces, leitor, o monstro delicado

– Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!

 

Benção é um poema de Charles Baudelaire que lembra a vida conturbada do poeta com a sua mãe.Ele é de uma dureza que parece a dor de um soco no estômago. Órfão de pai aos seis anos, Baudelaire passou a vida inteira em atrito com o padrasto que só cessou com a morte do intruso na sua relação com a mãe. O poema revela o patinho feio que ele introjetou, alvo da extrema rejeição materna “Ah! Tivesse eu gerado um ninho de serpentes,/Em vez de amamentar esse aleijão sem graça!/Maldita a noite dos prazeres mais ardentes/Em que meu ventre concebeu minha desgraça!  Após a morte do padrasto eles passam a morar juntos, não por muito tempo, porque Charles Baudelaire faleceu aos quarenta e seis anos de idade, nos braços da mãe.

 

BÊNÇÃO

Charles Baudelaire

Quando, por uma lei das supremas potências,

O Poeta se apresenta à platéia entediada,

Sua mãe, estarrecida e prenhe de insolências,

Pragueja contra Deus, que dela então se apiada:

“Ah! Tivesse eu gerado um ninho de serpentes,

Em vez de amamentar esse aleijão sem graça!

Maldita a noite dos prazeres mais ardentes

Em que meu ventre concebeu minha desgraça!

Pois que entre todas neste mundo fui eleita

Para ser o desgosto de meu triste esposo,

E ao fogo arremessar não posso, qual se deita

Uma carta de amor, esse monstro asqueroso,

Eu farei recair teu ódio que me afronta

Sobre o instrumento vil de tuas maldições,

E este mau ramo hei de torcer de ponta a ponta,

Para que aí não vingue um só de teus botões!”

Ela rumina assim todo o ódio que a envenena,

E, por nada entender dos desígnios eternos,

Ela própria prepara ao fundo da Geena

A pira consagrada aos delitos maternos.

Sob a auréola, porém, de um anjo vigilante,

Inebria-se ao sol o infante deserdado,

E em tudo o que ele come ou bebe a cada instante

Há um gosto de ambrósia e néctar encarnado.

Às nuvens ele fala, aos ventos desafia

E a via-sacra entre canções percorre em festa;

O Espírito que o segue em sua romaria

Chora ao vê-lo feliz como ave da floresta.

Os que ele quer amar o observam com receio,

Ou então, por desprezo à sua estranha paz,

Buscam quem saiba acometê-lo em pleno seio,

E empenham-se em sangrar a fera que ele traz.

Ao pão e ao vinho que lhe servem de repasto

Eis que misturam cinza e pútridos bagaços;

Hipócritas, dizem-lhe o tato ser nefasto,

E se arrependem pó haver cruzado os passos.

Sua mulher nas praças perambula aos gritos:

“Pois se tão bela sou que ele deseja amar-me,

farei tal qual os ídolos dos velhos ritos,

e assim, como eles, quero inteira redourar-me;

E aqui, de joelhos, me embebedarei de incenso,

De nardo e mirra, de iguarias e licores,

Para saber se desse amante tão intenso

Posso usurpar sorrindo os cândidos louvores.

E ao fatigar-me dessas ímpias fantasias,

Sobre ele pousarei a tíbia e férrea mão;

E minhas unhas, como as garras das Harpias,

Hão de abrir um caminho até seu coração.

Como ave tenra que estremece e que palpita,

Ao seio hei de arrancar-lhe o rubro coração,

E, dando rédea à minha besta favorita,

Por terra o deitarei sem dó nem compaixão!”

Ao céu, de onde ele vê de um trono a incandescência,

O Poeta ergue sereno as suas mãos piedosas,

E o fulgurante brilho de sua vidência

Ofusca-lhe o perfil das multidões furiosas:

“Bendito vós, Senhor, que dais o sofrimento,

esse óleo puro que nos purga as imundícias

como o melhor, o mais divino sacramento

e que prepara os fortes às santas delícias!

Eu sei que reservais um lugar para o Poeta

Nas radiantes fileiras das santas Legiões,

E que o convidareis à comunhão secreta

Dos Tronos, das Virtudes, das Dominações.

Bem sei que a dor é nossa dádiva suprema,

Aos pés da qual o inferno e a terra estão dispersos,

E que, para talhar-me um místico diadema,

Forçoso é lhes impor os tempos e universos.

Mas nem as jóias que em Palmira reluziam,

As pérolas do mar, o mais raro diamante,

Engastados por vós, ofuscar poderiam

Este belo diadema etéreo e cintilante;

Pois que ela apenas será feita de luz pura,

Arrancada à matriz dos raios primitivos,

De que os olhos mortais, radiantes de ventura,

Nada mais são que espelhos turvos e cativos!”.

A Paixão pelas Palavras

A Paixão pelas Palavras foi a primeira ideia que me veio quando comecei a elaborar a Programação para a Oficina em 2016. Talvez como resposta à pergunta que sempre me faço sobre o que leva as pessoas se reunirem durante tanto tempo para falar de Literatura? Nós nos denominamos de viageiros, navegantes, marujos e os nossos encontros de viagens pelos mares das palavras. Iniciamos em 2006, portanto dez anos já se passaram. Alguns navegantes aportaram pelas mais diversas razões, enquanto nos portos outros viageiros nos esperavam e subiram na embarcação sendo recebidos com muitas festas e outros permanecem firmes desde o começo, enfrentando ora mares revoltos, ora marés mansas, serenas. Acredito, como já o disse no Prefácio de Escrituras II (publicação com os textos literários produzidos), que velhos e novos marujos estão movidos pelos mistérios dos mares das palavras, pelo desejo de desvendar alguns significantes da criação literária. Pela paixão pelas palavras.

Assim, no rastro desse desejo, leitura e escrita formam binômio inseparável, quase monogâmico.

A Programação para 2016 contempla essa simbiose entre escrita e leitura. Será intensamente estimulada a escrita criativa através de associações livres, jogos, constrangimentos oulipianos e desafios que  provoquem  espanto diante do novo, do diferente, do estranho. As leituras em close reading privilegiará os silêncios, as metáforas, as elipses, a leitura da outra história que está sendo contada e só o leitor atento é capaz de perceber.

É tempo de içar as velas e nos lançarmos ao mar. Convidamos aos amantes das palavras para fazerem logo sua inscrição porque a nossa embarcação carece de cuidados com a lotação.

BrasilEscola

BrasilEscola

A paixão pelas palavras

O eu não é senhor em sua própria casa – Freud

 

Data de início – 17/02/2016

Período: 2016

Horário –  Quartas-feiras de 14:00  às 16:00

Local; Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise – Rua Alfredo Fernandes, 285, Casa Forte, CEP-50060-320 –  Recife- PE

Contatos –Fone: 3265-5705 (Luciene). Blog: www.traco-freudiano.org/blog

                       Email: oficinaclaricelispector@bol.com.br

A Oficina pretende em  2016 manter o foco na complexidade dos sentimentos humanos. Ela deverá possibilitar aos seus participantes viagens através da poesia, compartilhamentos de obras literárias e exercícios de desbloqueio criativo para desenvolver habilidade na escrita. Também serão realizadas leituras críticas de contos clássicos, com especial atenção para as entrelinhas e silêncios narrativos, visando potencializar o crítico literário inerente a cada um. Os participantes poderão participar da construção coletiva de um romance iniciado em 2015, como autor ou crítico.

Mais especifidades:

  • Contato com a linguagem poética através da leitura de poesia;
  • Compartilhamento de obras literárias sob a forma de empréstimo;
  • Estímulo ao fazer literário diferente, fugindo do convencional, da mesmice;
  • Descobrir habilidades na escrita;
  • Facilitar a expressão na escrita;
  • Fortalecer o estilo próprio de escrita;
  • Exercícios intensos de escrita criativa a partir de linhas de história, jogos de     palavras, associações livres, releituras de narrativas clássicas, mudanças de   ponto de vista, alterações de cenário, tempos de narrativas, diálogos;
  • Leituras críticas, desconstruindo histórias aparentes, possibilitando a               reconstrução a partir dos não ditos, das metáforas;
  • Fortalecimento do senso crítico a partir da leitura particular e dos                 instrumentos de análise literária;
  • Participar como crítico ou autor da construção coletiva do romance iniciado  em 2015;
  • Postagens no blog da Oficina da produção dos participantes.

Como vai funcionar:

Trabalhos em grupo e individual de escrita, utilizando papel e caneta, computador ou tablet. Leituras de poemas e contos no computador, tablet, celular ou impressos.

Possíveis participantes:

Interessados em desbloquear a escrita, viajar pelas emoções através da Literatura, do mistério e deslizamento das palavras formando novos sentidos; potenciais escritores e críticos literários movidos pelo desejo de escrever e ler.

Bibliografia:

Carmelo, Luís .Manual de Escrita Criativa – V.II – Portugal,2007
D’Onofrio, Salvatore – Forma e Sentido do Texto Literário – Atica, São Paulo, 2007
Goldberg, Natalie – Escrevendo com a Alma – Martins Fontes, São Paulo, 2008
Kohan, Silvia Adela – Os Segredos da Criatividade –  Gutenberg, São Paulo, 2009
Lodge, David.A Arte d a Ficção- L&PM, Porto Alegre, 2009
Llosa, Mario Vargas – Cartas a um Jovem Escritor
Moisés, Massaud– A criação Literária –Cultrix, São Paulo
Prose, Francine – Para ler como um escritor,
Wood, James. Como Funciona a Ficção – COSACNAIFY,São Paulo, 2011

Sugestões de bibliografia para Contos:

Casares, Adolfo Bioy, Gomes, Jorge Luis -e Silvina – Antologia da Literatura Fantástica, COSACNAIFY, São Paulo.Costa, Flávio Moreira – Os Melhores Contos de Loucura – Ediouro, 2007
Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal, Ediouro, 2001
Os 100 Melhores Contos de Erotismo da Literatura Universal, Ediouro
                                                      Os Melhores Contos da América Latina, Agir, 2008
Gomide, Bruno Barreto (Org.) – Nova Antologia do Conto Russo (1792-1998), Ed.34, São Paulo.
Mansfield, Katherine – K. Mansfield, COSACNAIFY, São Paulo
Poe, Edgar Allan – Contos de Imaginação e Mistério, Tordesilhas, 2012
Renner, Rolf G e Backes, Marcelo – Escombros e Caprichos – O Melhor do Conto Alemão no Século 20
Wilde, Oscar – As Obras Primas – Ediouro, 2000
Woolf, Virgínia – V. Woolf, COSACNAIFY, Sâo Paulo
Coordenação:

Lourdes Rodrigues publicou dois livros de contos: Bandeiras Dilaceradas e Situação-Limite pela Bagaço.Participou de algumas Antologias de Contos da UBE, de Benito Araújo e da Oficina de Raimundo Carrero, da qual fez parte por mais de 10 anos. Organizou e prefaciou o livro Escrituras, publicação que contemplou os textos literários dos participantes da Oficina relativos ao período 2006/2009.  Organizou, prefaciou e participou com contos e ensaio de Escrituras II, que abrangeu os trabalhos literários dos oficineiros de 2010 a 2013. Coautora de A Criação Literária à Luz do livro Incidentes em um Ano Bissexto de Luiz-Olintho Telles da Silva. Outra importante área de seu interesse sempre foi a Psicanálise, tornando-se membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise em 2003, onde participa de estudos de Arte e Psicanálise e de Literatura. Desde 2006 coordena a Oficina de Criação Literária Clarice Lispector, primeiro dividindo o leme com outros colegas viageiros dos mares das palavras, depois num trabalho coletivo com os seus integrantes. Decorrente desse vínculo com o Traço foi coautora do livro rodopiano e publicou vários ensaios na Revista Veredas. Nos últimos dois anos participa do conselho editorial da Revista.

 

Dulores, não veio.

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Sol gostoso, o barulho das ondas quebrando na areia da praia, corpo relaxado…

Por que Dulores desmarcou? Ainda não consegui entender, embora não tenha parado de pensar no assunto. Ligar dizendo que havia esquecido o compromisso com o dentista, deixou-me primeiro surpresa, depois, decepcionada. A reação imediata foi  me perguntar desde quando uma broca era mais importante do que o encontro com a  suposta maior amiga do passado e que não vira há décadas? Ah, essa minha autoestima tão vulnerável! Ainda bem que velejei pouco tempo pelos mares da rejeição. Atraquei numa enseada onde edificara forte de defesa contra auto-ataques, o que me devolveu rapidinho o senso crítico. E por que isso teria algo a ver comigo? Preciso acabar com essa tendência narcísica de achar que o mundo gira em torno da minha bela pessoa. Melhor desvestir a fantasia de desamada por maior que seja o gozo.

Não, nem sempre sou eu o objeto da atenção do outro, admiti.

E se Dulores estava temerosa do nosso reencontro levá-la de volta a um passado que não gostaria de lembrar ? Então, faz sentido escapar com aquela desculpa esfarrapada. Sim, por defesa ou não, pensar nessa possibilidade deixa-me um pouco aliviada. E de imediato veio-me uma imagem de Dulores  vergada ao meio, o corpo inteiro tremulante, murmurando palavras desconexas. Não sei o que seria de mim se estivesse em seu lugar.Tantas lembranças ruins, Dulores. Não lhe culpo se você conseguiu se distanciar desse passado doloroso, mesmo que o preço seja não nos encontrarmos mais.

Ora, ora, ora essa minha tendência a romantizar tudo. Vai ver que não é nada disso. Não existe um culpado nesse desencontro nem qualquer mistério por trás.  É porque a vida vem em ondas,  como diz Lulu Santos, Nada do que foi será/De novo do jeito que já foi um dia/Tudo passa/Tudo sempre passará. Não sei porque nos enganamos, a vida é um indo e vindo infinito, mas nunca o que volta é o que foi, não se olha do mesmo jeito alguém ou algo que já se viu anteriormente, até porque nós não somos mais os mesmos de antes. O abraço aconchegante no reencontro com Dulores tinha um gostinho de Déjá vu.  Mas que foi gostoso, foi. Que bom esperar pelo próximo encontro. Valeu até a decepção de não acontecer.

Como eu pude esperar que Dulores me devolvesse o tempo perdido? Quem sabe eu precisasse acreditar que nesse reencontro eu iria sentir os cheiros da minha terra, veria as cores do caramanchão da praça em que passeávamos, ah, eu queria mesmo sentir o gosto das madeleines … Mas, que importa se Dulores já não é mais a minha maior amiga? Eu vou continuar fingindo que nada mudou e falando com ela sempre que algo  estiver transbordando de mim.  Ela é a foz onde eu vou sempre desaguar.

 

Por que criar um blog?

Por que criar um blog? Talvez a tentativa de deixar escoar, de forma organizada, pensamentos  e emoções que ameaçavam transbordar de mim sem limite e controle tal o afluxo deles no meu dia a dia. E por que não falar com um amigo? Ou com a tribo que mais me identifico? Hoje já não consigo fazer isso tamanho o corre corre em que eu vivo e a agenda cheia para as trinta ou mais horas do dia.  Quando encontro alguém e o papo parece querer esquentar, logo começa a se insinuar aquela sensaçãozinha de culpa por tudo que ainda tenho por fazer. A saída é a despedida rápida, a promessa de marcar outro encontro onde  espero ter mais tempo para dar continuidade à conversa ora iniciada, o que nunca ocorrerá.

Por que então não criar um diário pessoal para dar vazão a essa torrente de palavras que ameaçam transbordar sem controle ou limite? O tempo que o blog exige seria o mesmo de um diário, ambos com a vantagem de serem feitos nas horas mais convenientes. Com a diferença de que blogando ao público você sabe que há um outro que lê sem ter o sentimento de estar violando os seus segredos e quem sabe até vá se identificar ou discordar  do que leu, possibilitando trocas valiosas. Mesmo porque, há assuntos que em sua essência exigem compartilhamento. Por exemplo, literatura. Falar dos livros que lemos é uma necessidade imperiosa. Discutir autores, suas técnicas, os gêneros literários favoritos. Igualmente, os filmes que assistimos, as peças que vimos.  Outra vertente muito forte de compartilhamento é a visão de mundo, o nosso sentir diante das coisas que acontecem em volta de nós, ou mesmo falar sobre a difícil arte de viver quando se tem tanta sensibilidade.

Na verdade, talvez seja mesmo apenas uma tentativa de diminuir a solidão.

SITUAÇÃO LIMITE

Há alguns anos, escrevi um livro que dei o título de Situação Limite. Livro de contos em que os personagens sempre se defrontavam com situações limite, seja por questões de relacionamento (a maioria), razões políticas ou crise existencial. Os personagens que estavam à beira de uma crise de nervos enfim viam-na acontecer, a represa estourar, trazendo na aguaça a des-existência. Nunca mais a mesma.  Certa vez eu vi um vídeo que uma colega me enviou de uma jovem senhora, 38 anos, casada, três filhos, dois empregos, jornada dupla de trabalho na rua e em casa, que havia roubado um urso de pelúcia numa loja de brinquedos para poder ir presa e assim poder ler os livros e ouvir os discos que guardara a vida toda e não conseguira tempo para curtir. Eu pude ver um caso de situação-limite bem nos moldes das vivências dos personagens que eu  criara. Muito feliz, atrás das grades, ela se recusava a falar com o advogado e dizia que só iria fazê-lo após ler Sertão Veredas de Guimarães Rosa e Crime e Castigo de Dostoievski, depois de mostrar um livro cuja capa lembrava-me uma obra famosa de Gabriel Garcia Marquez, Cem anos de solidão. Ou seja, ela não estava com pressa, não é?

Pegadinha ou verdadeiro o vídeo, pouco importa, ele traz à baila uma questão muito séria: os limites do ser humano. É muito frequente as pessoas irem assumindo, ao longo da sua vida, compromissos e encargos que as afastam delas próprias, sabotando sentimentos, desejos. As mulheres são mais vulneráveis, assoberbadas pelas funções maternas, de esposa e profissional, esquecem-se de si mesmas e quando se dão conta, a vida passou, os filhos cresceram e não param mais em casa, o marido já se foi atrás de alguém mais jovem, risonha e atraente,  o trabalho não mais cobre os buracos da sua existência, até porque a competição dos mais jovens e arrojados profissionais traz o sinal amarelo de alerta. E então, a pergunta que ficou atravessada na garganta a vida toda escapole O que eu fiz da minha vida? Aproveitando a dica do vídeo, onde estão os livros que eu não li, as músicas que eu não escutei, os dias que eu não me olhei? Na verdade, o que acontece sempre é que não há tempo para se perguntar o que se gostaria de fazer, há uma agenda já preparada para atender a família que não lhe dá espaço.

 

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A minha amiga, Dulores

Encontrei  Dulores há menos de uma semana. Assim é escrito o seu nome, segundo ela, por conta de um escrivão de cartório analfabeto. Ou porque o seu pai falava entre os dentes, mal se ouvia o que dizia, e a cara fechada impedia que se perguntasse outra vez. Tornar-se-ia seu inimigo se alguém o pronunciasse dessa forma. Devíamos chamá-la de Dolores, acentuando bem o primeiro “o”, quase tomando o lugar do segundo e tornando seu nome uma palavra proparoxítona. Sorria satisfeita ao fazermos isso.

Assim, do nada. Não marcáramos encontro, mesmo porque havíamos nos perdido de vista. Há muito não sabia onde morava, o seu telefone fora mudado sem que ela me avisasse. E de repente, dobro uma esquina e ali está. Confesso que não a reconheci de imediato. Quando ela disse, Oi, respondi, Oi,  e rebobinei por alguns segundos aquele rosto, aquela voz, aquele jeito de me abraçar. A emoção chegou primeiro do que a memória. Ah, o aconchego daquele abraço! Tratava-se de alguém muito querido, com certeza.  E então, chegou!  Dulores, Dolores, Dôlores, amiga querida, alguém com quem eu falara mentalmente durante todos esses anos de ausência quando eu precisava de um ombro para chorar ou queria dividir algo muito bom que havia me acontecido. Cadê você,  o meu pensamento chamava, em vão. Que falta você me fez, eu dizia e ela repetia como um eco, sem conseguirmos nos desgrudar uma dos braços da outra.Quem sabe por temermos que após aquele abraço outra vez nos perderíamos de vista, talvez para nunca mais nos vermos, nosso futuro já não está mais na linha do horizonte.

Esse encontro me fez pensar como pode duas pessoas se gostarem tanto e se perderem de vista  por tão longo tempo? Como se explica isso? Mais estranho é que na hora do reencontro o bem querer está ali, do jeitinho que sempre foi, insensível ao tempo, à distância, às  cicatrizes que a vida deixou em cada uma, aos novos laços que foram sendo construídos, às perdas acontecidas  ao longo de tanta ausência.

Os códigos que regem as amizades são um mistério. Muitas vezes chamamos alguém de amigo, mas nunca dividimos uma confidência com ele, jamais visitamos a sua casa, estamos sempre a dizer, vamos nos encontrar? E nunca marcamos, de fato. Sabemos com certeza que em nenhuma hipótese iremos procurá-lo num caso de necessidade, mas continua sendo catalogado como amigo. Lembro de uma pessoa que eu conheci e me encantei facilmente com ela, muito sedutora, dizia que amigo era aquele com quem não se tinha segredo, falava-se bobagem, as mais idiotas e tediosas, ligava-se a qualquer hora do dia, da noite ou madrugada. Puxa, que lugar ela coloca um amigo, pensei! Vale a pena uma amizade assim. Falácia! Se alguém ligasse para a sua casa no final de semana antes das 11:00 horas da manhã, levava um esporro, antes mesmo de falar o assunto. Se alguém falasse algo que ela achasse irrelevante, dizia, não gosto de falar bobagem, ou ainda, que conversa chata, repetitiva. Ficou claro para mim que ela havia delineado um modelo ideal de amigo que ela jamais conseguiria alcançar. Há casos de amizade que dura anos e não suporta uma viagem de 15 dias. A discussão começa com o roteiro da viagem, interesses até então convergentes tornam-se duas paralelas sem qualquer possibilidade de comunicação, passam pelos custos das programações e vai até às escolhas dos pratos no restaurante e os roncos na hora de dormir. Muitas amizades acabam depois de uma viagem. Às vezes nem precisam de uma viagem, basta uma estadia na casa. Observar de perto as obsessividades de rotina e limpeza do amigo, acabam com a leveza de uma relação que até então não fora testada na intimidade.A verdade é que sempre idealizamos o amigo. Descobrir que ele não é bem o que pensávamos, dependendo do grau de frustração, pode custar a amizade. 

Mas a amizade com Dulores havia sido testada no passado e havia superado todos os obstáculos. Passáramos pelos defeitos uma da outra sem grandes arranhões. Agora,  inclusive, ela superara  a barreira do tempo: estava ali, inteira, intacta, surpreendendo-nos. Ficamos a falar de forma atabalhoada querendo nos dizer tudo desses dez anos de silêncio. Enfim, recobramos o senso e combinamos nos encontrar com mais tempo. Aí surgiu o problema. Como arranjar um tempinho para esse encontro tão desejado? A minha agenda estava cheia, a dela também. Ambas comprometidos com os filhos dos nossos filhos. Sim, somos avós, primeira informação que trocamos. Mais do que isso, avó-mãe.Os netos absorveram o nosso tempo de tal forma que já temos dificuldade de encontrar espaço na agenda para um programa particular. Outra revelação! Ah, os velhos tempos, as longas conversas, tantos sonhos, tantas fantasias trocadas. Horas intermináveis de bate papo e agora não conseguimos uma tarde para nós. Decidimos romper com essa sujeição. Vamos, vamos sim nos rever, e vai ser amanhã, passaremos a tarde juntas. Despedimos-nos felizes com a possibilidade do reencontro.

 

 

ANATASHA MECKENNA CANTA DOLORES DURAN…

Conheci Anatasha Meckenna através do blog de Monica T Maia que de alguma forma fez contato com o meu blog. Encontrei a postagem Os Indescritíveis Sons Luminosos que vêm de Anatasha e com ela o vídeo que tanto me comoveu. Fiquei encantada, completamente , com a voz que saía daquela moça. Quando ela interpretou A Noite do Meu Bem, de Dolores Duran fiquei extasiada pois jamais havia imaginado que essa música pudesse ser cantada por uma cantora desse nível. E veio-me tanta saudade de Dolores Duran que fui buscar um vídeo dela para postar aqui junto com Anatasha Meckenna. Não para comparar as interpretações, ambas são preciosas demais para isso.

A Ave Maria de Gounod e o Hino ao Amor pela voz de Natasha são sublimes.